10 março 2011

...A viela..

Finalmente consegui um estágio. A principio, depois de muito tempo finalmente consegui. Não foi muito fácil, pois passei por muitas decepções, não, mas no fim tudo deu certo. No primeiro dia, o dia que fui conhecer a empresa vi que existe uma viela, na verdade uma passagem entre um conjunto de moradias bem simples, mas a palavra que melhor definiria seria barraco. Para chegar à empresa, decidi dar a volta, pois não sabia como seria atravessar por lá, para falar a verdade estava com um certo preconceito. À principio nunca havia passado por um lugar assim antes, no máximo foi passar pela borda de uma favela, mas o lugar não se compara a uma. Cheguei à empresa pegando o caminho mais longo. Não demorou muito e logo a chuva veio. Na minha volta me disseram que o caminho que havia pegado não era aconselhavel pois a rua ficava alagada em tempos assim. Sem muita saída, tive que ir pela viela. Essa idéia era meio desconfortante, pois temos tantos medos e conceitos já formados que me fizeram sentir inseguro ao ir a este lugar. Entrei, a viela era formada por casas todas feitas de madeira, nenhuma feita por alvenaria. O chão era todo irregular, em algumas partes via o esgoto, penso eu, passando no meio da viela. Por ser pequenas as casas e estarem muito proximas, senti que não havia ventilação e o calor era intenso. Vi pessoas humildes, vi crianças andando peladas no meio da viela, vi uma realidade da verdadeira pobreza que se espalha por este Brasil.

Após isto, os demais dias segui passando pela viela, pois não vi maldade nem perigo dentro desta pequena comunidade. Até reparei, com mais calma, que no meio dela havia um pequeno bar. Dai, pensei em tantas coisas, mas o que me fez realmente questionar foram dois pensamentos. O primeiro foi como excluimos certas realidades das nossas e como elas nos atingem ao ponto de nos chocar. A diferença que existe nessa cidade ou em qualquer outra, mas principalmente nas cidades grandes, é brutal. Ao contrário que vimos na televisão, a realidade vivida tende ser mais marcante, pois você realmente sente como é esta sensação de estar lá. Não vou ficar falando mal da midia, mas queria muito que as pessoas vissem o que existe la dentro, não encontrei medo la dentro, mas encontrei pessoas comuns que precisam de um pouco de esperança e um lugar melhor para morar. Acho que oportunidade é que faltam a eles. O segundo pensamento foi que perto desta viela, existe muitas empresas de engenharia porem nenhuma se mobiliza para consertar o espaço em volta dela. Digo isso, pois primeiro existe uma parte proximas que alaga, segundo que ninguem se mobiliza para melhorar a vida destes moradores, nem da parte deles nem da prefeitura. Sei que o problema da moradia é grande no país, mas não é impossivel encontrar a solução. Neste momento pensei em fazer algo por estas pessoas. Pensei se pelo menos água e esgoto tratado eles poderiam ter. Não só estes, mas o restante do Brasil que estão fora da nossa realidade. Pensei o quanto a minha área afeta a vida dos outros e quanto se pode fazer crescer o país, para que se desenvolva e deem condições de vida adequada para todos.

Não sei como posso ajudar estas pessoas, mas sei que algo nessa viela, a sua realidade, me fez ver o quanto precisamos mudar e fazer pela nossa sociedade. Sei que o país cresce, mas só os números crescem na economia, mas de nada vai mudar se a diferença continuar a aumentar mais e mais. Acredito que muita coisa poderá mudar para a melhor, mas enquanto continarmos acomodados a viver nossa pequena realidade, esta vielas e como tantas outras ainda continuarão a existir.

Um comentário:

  1. Hey Hideki-kun!

    Esse foi o primeiro texto que li de você, e me fez lembrar de uma situação parecida...

    Eu precisava voltar pra casa, mas estava perdida.. e o único caminho que eu enxergava era passar por uma comunidade que tinha lá perto. Fiquei meio indecisa, mas como não via outra escolha, acabei seguindo por ali mesmo. Deu tudo certo e cheguei em casa, mas meu pai me aconselhou a não pegar mais esse caminho.

    Você mesmo falou do preconceito, e acho difícil nos livrarmos dele tão cedo.. conheci muitas pessoas de origem humilde, e gosto bastante delas, além disso, nunca tive uma experiência ruim com elas.. mas mesmo assim, me sinto intimidada quando preciso atravessar um local como esse, ainda que não sou muito apegada a pré conceitos..

    Só acho que não podemos nos esquecer desses ideais.. o importante é isso. Não importa que não possuamos meios por enquanto, é só saber que não é impossível.

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